“A
primeira operação de manutenção de paz das Nações Unidas a Organização das
Nações Unidas de Supervisão da Trégua (Onust), uma missão de observação-, foi
criada em 1948, no Oriente médio, quando o Conselho de Segurança decidiu
estabelecer uma operação para supervisionar a guerra entre árabes e judeus na
Palestina.”
(ONU-Operações
da Paz. Texto adaptado).
Território
Mapa
político do Oriente Médio
Localizado no sudoeste asiático, o
Oriente Médio posiciona-se estrategicamente entre três continentes: Europa,
Ásia e África.
Trata-se de uma região marcada por
climas áridos e semiáridos, com algumas “ilhas de umidade” no litoral e em
vales dos rios Tigre, Eufrates e Jordão, que são objeto de disputa entre seus
habitantes. Existem áreas de relevo
montanhoso ao norte, como os montes Taurus. Além disso, em seu território está
o limite das placas tectônicas da Anatólia e Arábica e desta com a Iraniana. A
falha transformante da Anatólia é causa de graves e frequentes terremotos na
Turquia, e a convergência das outras placas é responsável por terremotos no
Irã.
Sua posição estratégica é atestada pelos
limites de seu território, marcados por alguns pontos geopolíticos e econômicos
mais importantes do mundo:
·
Canal de Suez: construído pelos ingleses
em terras do Egito, faz a ligação artificial entre o Mar Mediterrâneo e o Mar
Vermelho.
·
Estreito de Ormuz: liga o golfo Pérsico
ao Oceano Índico, sendo rota obrigatória dos petroleiros dos países árabes que
se dirigem a todos os mercados do mundo.
·
Estreito de Bósforo: ponto de comunicação
entre o mar Mediterrâneo e o mar Negro, é passagem da Europa para vários países
asiáticos.
·
Estreito de Tiran: única ligação de
Israel com o Mar Vermelho, através do golfo de Aqaba.
·
Estreito de Bab-el-Mandeb: separa o Oriente Médio da instável região chamada
“Chifre da África” (Somália, Eritréia, Etiópia e Djibuti), no encontro do mar
vermelho com o Oceano Índico.
Dezessete
países, mais o Estado Palestino, ainda
não efetivamente instalado nem reconhecido pela ONU, fazem parte do Oriente
Médio.
Na
península Arábica estão localizados os “países do petróleo” (Omã, Catar, Arábia
Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iêmen). Outro “país do petróleo” é
Bahrein, formado por trinta e cinco ilhas no golfo Pérsico.
Na costa banhada pelo Mediterrâneo, estão países que
de destacam pela instabilidade que a
criação do estado de Israel, em 1948, em território palestino, trouxe para a
região: Jordânia, Síria, Líbano e o próprio estado de Israel. Todos, com
exceção da Jordânia, se localizam em terras das antigas Fenícia e Palestina. Na
costa mediterrânea também se localiza a ilha de Chipre, pertencente ao
continente europeu.
Com uma pequena porção de seu território situada na
Europa, a Turquia tem uma localização geográfica privilegiada e, apesar dos
últimos conflitos envolvendo os curdos e da ascensão ao poder de um partido
fundamentalista islâmico em 2002, é o país de maior estabilidade política do
Oriente Médio. Sua posição geográfica a aproxima mais da União Europeia do que
do Oriente Médio.
No centro do Oriente
Médio, estende-se a fértil planície da Mesopotâmia, atravessada pelos rios
Tigre e Eufrates. Berço das mais antigas civilizações do mundo, a Mesopotâmia é
ocupada hoje, em grande parte, pelo Iraque, mas abriga também áreas da Síria,
da Turquia, do Irã e do Kuwait. A Jordânia, além de ser um país fechado para o
mar, não possui jazidas de petróleo, sofre problemas de abastecimento de água e
vive na dependência da geopolítica regional.
O Egito, apesar de ter
a maior parte de seu território na África, possui na Ásia a península do Sinai
e já esteve envolvido e vários conflitos no Oriente Médio. Dois outros países
citados nas aulas anteriores interferem bastante na geopolítica da região: o
Irã e o Afeganistão.
HISTÓRIA
E DIVERSIDADE ÉTNICA E RELIGIOSA
As diferenças étnicas e
religiosas no Oriente Médio são o
resultado das influências que a região recebeu durante séculos, uma vez que é
uma das áreas de ocupação mais antiga do mundo. Seu território já abrigou
importantes civilizações, como a egípcia, as civilizações da Mesopotâmia
(sumérios, assírios, caldeus), a hebraica, a fenícia e a persa. No entanto,
podemos afirmar que dois fatores foram fundamentais para a geopolítica da
região: o expansionismo árabe (séculos VII a XV) e a presença dos turcos do
Império Otomano (séculos VII a XX).
Após a Primeira Guerra
Mundial (1014-1918), as áreas do Império Otomano no Oriente Médio foram
repartidas entre as potências vencedoras do conflito: Síria e Líbano ficaram
sob o domínio francês; Iraque, Transjordânia e Palestina ficaram sob a custódia
do Reino Unido.
Do ponto de vista
humano, a mais marcante característica do Oriente Médio é o fato de ser berço
das três maiores religiões monoteístas: o islamismo, o cristianismo e o
judaísmo.
CONFLITOS
PELO TERRITÓRIO: A TERRITORIALIDADE
A região é a maior
consumidora do mercado mundial de armas em virtude dos conflitos que aí
ocorrem, ocasionados pelas diversidades étnicas e religiosas e pela disputa de
território.
Dessas disputas
territoriais, a mais sangrenta e de difícil solução é a questão palestina, que
teve início com a criação do Estado de Israel em 1948.
Também habitam o
Oriente Médio os representantes da maior etnia sem território do mundo na
atualidade: os curdos.
Relembrando: “O povo
curdo é um grupo étnico que se julga nativo de uma região do Oriente Médio chamada
de Curdistão, que abrange parte dos territórios do Irã, Iraque, Síria e
Turquia. Esse grupo étnico é formado por
aproximadamente 25 milhões de pessoas, possuem uma organização social
alicerçada no sistema de clãs.”. Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/povo-curdo.htm
Outros exemplos de luta
pela territorialidade no Oriente Médio são o fundamentalismo islâmico
(territorialidade político-religiosa) e as transnacionais do petróleo
controladas pelos Estados Unidos e por países europeus que aí exercem uma
territorialidade econômica.
QUESTÃO PALESTINA
A questão palestina é
um termo utilizado em referência à luta dos povos palestinos após a perda de
seus territórios, o que ocorreu em função dos desdobramentos ligados à criação do Estado de Israel em 1948. Atualmente, os territórios palestinos
reduzem-se a restritas áreas na Cisjordânia e também na Faixa de Gaza (ver mapa
no final do texto), onde são comuns conflitos entre judeus e árabes.
Os povos palestinos são constituídos
por uma etnia do mediterrâneo composta por uma miscigenação entre filisteus,
árabes e cananeus; são maciçamente muçulmanos e utilizam o idioma árabe. Já a
Palestina (de Filistina – “terra dos Filisteus”) é uma região
considerada histórica tanto pelos próprios palestinos quanto pelos judeus.
Esses últimos ocuparam essa região há mais de quatro mil anos, que é
considerada por eles como uma área sagrada: a Terra Prometida.
Os judeus, no entanto, foram expulsos
dessa área, primeiramente pela Babilônia e, posteriormente, pelo Império
Romano, o que constituiu um episódio histórico conhecido como a diáspora
judaica. Com isso, após vários outros desdobramentos históricos, os árabes
e, mais precisamente, os palestinos mantiveram a ocupação da região por quase
dois mil anos. Apesar disso, o domínio local foi exercido por muito tempo pelo
Império Turco-Otomano.
Ao final do século XIX, foi criado pelo
escritor austríaco judeu, Theodor Herzl, o movimento sionista, que
representava a busca pela retomada da Terra Prometida, também chamada de
“Sião”. Também foi fundada a Organização Sionista Mundial (OSM), que tinha sede
na Suíça. Dessa forma, iniciou-se um gradativo processo migratório de judeus
para a região da Palestina, que foi, ao menos inicialmente, marcado pela
ausência de qualquer conflito.
Após o término da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e a recorrente derrota dos turcos, a região ficou sob a
administração da Inglaterra, que cogitou então a criação de um Estado judeu,
causando uma série de instabilidades locais entre as diferentes populações.
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o fluxo migratório judeu
intensificou-se e esse povo ganhou uma maior influência diplomática,
principalmente pelos episódios protagonizados pela Alemanha nazista e
pelo Holocausto.
Após a realização de acordos entre
Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, a Organização das Nações Unidas
(ONU) realizou a partilha da Palestina em 1947. Os judeus ficaram
com 57% do território, e os árabes, que eram maioria na região, com 43%. A
capital Jerusalém (sagrada para as religiões judaica e islâmica) pertenceria a
ambos e ficaria sob a administração da própria ONU. No ano seguinte, foi
fundado, então, o Estado de Israel.
Essa configuração, no entanto, não
agradou os povos árabes do Oriente Médio, que iniciaram uma ofensiva contra o
Estado de Israel no mesmo ano de sua criação. Esse ataque – chamado de Primeira Guerra
Árabe-Israelense e liderado por Egito,
Transjordânia (hoje, Jordânia), Líbano
e Síria – foi combatido pelos judeus, que tinham nos Estados Unidos um grande
aliado diplomático e militar.
Após o estabelecimento de um armistício na
região, Israel ocupou novas áreas pertencentes aos palestinos, que ficaram
então sem território, pois suas áreas foram novamente divididas. Os judeus
ficaram com a Galileia e outras áreas, ao passo em que a Jordânia incorporou a
Cisjordânia e o Egito dominou a Faixa de Gaza. Esses acontecimentos tornaram
mundialmente conhecida a questão palestina: o caso de uma nação que
ficou sem o seu território.
Enquanto os palestinos foram se
enfraquecendo e, consequentemente, dispersando parte de sua população para
outros territórios (como o Líbano, a Síria e o Egito), Israel intensificou a
sua força e tornou-se militar e politicamente preponderante na região do
Oriente Médio, principalmente após as vitórias nas guerras do Suez
(1956), dos
Seis Dias (1967) e do Yom Kippur (1973).
Essa configuração favoreceu a criação, por parte dos palestinos, de
vários grupos extremistas que passaram a lutar não só pela criação de um Estado
Palestino, mas também pela total destruição de Israel e expulsão dos judeus da
região.
Nesse intuito, foi fundada a Organização para a Libertação Palestina
(OLP) em 1964, liderada pelo grupo Al Fatah, que realizava
atos extremistas desde 1959 e era comandado por Yasser Arafat. Mais
tarde, em 1987, foi fundado outro grupo extremista, o Hamas, que
hoje é formado por três frentes: um partido político, um braço armado e uma
organização filantrópica pró-palestina. Esse grupo é considerado por muitos
países como uma organização terrorista (incluindo Israel e EUA), mas para
outros países ele não é visto como tal (incluindo Turquia e até o Brasil).Também
no ano de 1987, a OLP, sob liderança do Fatah de Yasser Arafat, passou a não
mais utilizar métodos de violência para alcançar seus objetivos e também atuou
no sentido de reconhecer a existência do Estado de Israel, reivindicando, no
entanto, a criação do Estado da Palestina e uma convivência harmônica entre os
dois povos, diferentemente do Hamas, que não aceita a existência dos
israelenses. Por causa dessa configuração, a OLP passou a ser reconhecida pelo
Ocidente e pela ONU como a única representante da frente árabe na Palestina.
Em 1993, os Estados Unidos fizeram a intermediação diplomática entre
Arafat e o então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, nos chamados Acordos
de Oslo, na Noruega, local onde as negociações ocorreram. A assinatura
oficial dos termos foi realizada em Washington, capital dos EUA (foto abaixo).
Esses acordos fizeram com que os palestinos tivessem posse novamente de um
território – mesmo que sem um Estado constituído –, ao mesmo tempo em que a OLP foi reconfigurada pela criação da Autoridade Palestina (AP). Essa instituição ficou sob o comando de Arafat e ergueu a sua sede na Cisjordânia, que foi devolvida pelos israelenses juntamente à Faixa de Gaza.
No entanto, as relações de paz estiveram longe de se estabelecerem, de modo que as tensões aumentavam sempre que um primeiro-ministro do Partido Likud vencia as eleições em Israel, pois esse grupo é inimigo ferrenho dos palestinos, enquanto o Partido Trabalhista costuma fazer mais concessões. Em 2000, com a chegada de Ariel Sharon, do Likud, ao poder em Israel, as relações estremeceram-se completamente, pois Sharon sempre foi um grande opositor a qualquer acordo com os árabes. Por essa razão, os atentados terroristas intensificaram-se na região. Em 2004, morreu Yasser Arafat.
Em 2002, iniciaram-se as construções
do Muro de Israel ou Muro da
Cisjordâniapara a separação dos territórios controlados pelos palestinos do
restante do território de Israel. No entanto, essa construção vem sendo
bastante criticada, em razão das acusações de que Israel estaria ocupando,
durante o erguimento da muralha, áreas que deveriam ser de controle palestino.
Em 2006, para tornar o cenário ainda mais tenso politicamente, o Hamas
venceu as eleições no território palestino, derrotando pela primeira vez o
Fatah, o que gerou uma recusa por parte de Israel e das potências internacionais
de reconhecerem a Palestina, isolando a Autoridade Palestina politicamente.
Além disso, o governo de Israel – atualmente na figura do primeiro-ministro
Benjamin Netanyahu – vem incentivando a instalação de colônias de judeus em
áreas sob a posse de palestinos, incluindo a Faixa de Gaza, uma das áreas em
que há mais atentados terroristas e conflitos armados no mundo.
Em 2012, após uma série de debates e resoluções no contexto da ONU, o
Estado Palestino passou a ser reconhecido como um membro observador das Nações
Unidas, o que representa um reconhecimento implícito por parte da comunidade
internacional da existência da Palestina sob comando árabe. Os EUA e Israel
agiram como ferrenhos opositores à proposta, porém foram derrotados pela
Assembleia Geral da entidade.
Atualmente, muitas questões dificultam
a concretização da criação do Estado da Palestina, incluindo aí a questão dos
colonos judeus incentivados por Israel. Além disso, os israelenses detêm
controle sobre recursos naturais e até sobre a água e não parecem estar
dispostos a ceder essa posse aos árabes. E isso sem falar na cidade de
Jerusalém,considerada sagrada para os muçulmanos e reivindicada pelos palestinos e que também não será cedida, sob nenhuma hipótese, pelo Estado de Israel.
Consequentemente, os atentados terroristas e os confrontos continuam ocorrendo, incluindo a forma como Israel contra-ataca as ações do Hamas, muitas vezes com um uso desproporcional de força e poderio miliar. Recentemente, o Brasil criticou publicamente a forma de agir de Israel em termos de violência em Gaza. O Porta-Voz das Relações Exteriores do país, Yigal Palmor, respondeu chamando o governo brasileiro de “anão diplomático”, o que gerou um grande mal-estar na diplomacia internacional. Posteriormente, o governo de Israel desculpou-se pela declaração.
Árabes e judeus: Relacionamento marcado por tensões e conflitos
O conflito entre árabes e judeus é relativamente recente, ao contrário do que muitos acreditam. Até o final do século 19, judeus e diferentes povos árabes viviam como "primos" (o que supõe, claro, conflitos ocasionais), e não só no Oriente Médio. A convivência se estendeu, por exemplo, à Espanha, ocupada pelos árabes até o fim do século 15.
Os problemas ganharam corpo com a crise dos grandes impérios, ao término do século 19, que permitiu o avanço de inúmeros movimentos nacionalistas. Isso tanto no Império Russo como no Império Turco-Otomano e no Império Austro-Húngaro.
Entre os novos movimentos estavam o nacionalismo árabe, que defendia a criação de um grande Estado árabe independente dos turcos; e o movimento sionista, defensor da volta dos judeus à Palestina - dispersos por todo o mundo desde a destruição de seu Estado independente, no início da era cristã.
A 1ª Guerra Mundial (1914-1918) selou o fim dos grandes impérios e redesenhou o mapa do Oriente Médio, que antes era dominado pelos turcos. Os ingleses receberam um mandato da Liga das Nações para ocupar por 30 anos os atuais Iraque, Jordânia e Palestina. A França ficou com o que hoje são a Síria e o Líbano.
Entre os judeus, a maioria vivendo na Europa Oriental e na América do Norte, o sionismo era bastante minoritário. As correntes políticas mais fortes eram as compostas pelos socialistas - defensores da integração dos judeus à luta dos trabalhadores contra o capital -, pelos liberais - favoráveis à integração da população judaica em cada país -, ou, ainda, pelos religiosos ortodoxos.
O problema é que, para conquistar o apoio dos árabes contra os turcos na 1ª Guerra, assim como o respaldo dos judeus nos impérios Russo e Austro-Húngaro, e também nos Estados Unidos, a Grã-Bretanha prometeu a mesma coisa aos dois lados. Aos árabes, um grande Estado independente, o que suporia a inclusão da Palestina. E aos judeus, um "lar nacional" na Palestina.
As duas comunidades passaram então a disputar espaço na Palestina sob mandato britânico. Os sionistas traziam jovens pioneiros da Europa Oriental para cultivar terras compradas dos árabes por milionários judeus. E os nacionalistas árabes lançavam ataques armados contra as novas comunidades judaicas. Os britânicos ficavam no meio do caminho, ora limitando a imigração judaica, ora restringindo os ataques dos militantes árabes.
Massacre na Europa
Tudo mudou com a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), quando mais de seis milhões de judeus foram massacrados pelos nazifascistas na Europa, ao lado de milhões de russos, poloneses, homossexuais, dissidentes políticos e deficientes físicos e mentais. No final da guerra, com a Europa arrasada, o sionismo tornou-se rapidamente majoritário entre os judeus sobreviventes.
Com a retirada das tropas britânicas da Palestina marcada para 1947, os sionistas - que contavam com a simpatia da opinião pública mundial, devido ao massacre dos judeus na guerra - conseguiram costurar o apoio dos dois grandes vencedores do conflito, União Soviética e Estados Unidos, à divisão do território.
A Assembleia Geral da ONU, então presidida pelo ex-chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, votou pela partilha da Palestina em dois estados - um árabe e outro judeu. Em maio de 1948, o futuro primeiro-ministro David Ben Gurion anunciou a criação do Estado de Israel. O mundo árabe não aceitou a partilha e, nos dias seguintes, sete estados árabes declararam guerra a Israel, que foi invadido por cinco exércitos. Valendo-se da divisão do mundo árabe, os israelenses venceram a guerra e expulsaram muitos palestinos do que deveria ser seu Estado.
Desde então, houve três grandes guerras entre Israel e os países árabes: em 1956, 1967 e 1973. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Faixa de Gaza e o deserto do Sinai, que pertenciam ao Egito, as colinas do Golan (Síria), as fazendas de Shebaa (Líbano), Jerusalém Oriental e a Cisjordânia (Jordânia).
Em 1979, Israel assinou a paz com o Egito, que recebeu de volta o Sinai. Nunca mais o mundo árabe conseguiria unir-se contra o Estado judeu. Sucessivos governos israelenses incentivaram a criação de colônias judaicas nos territórios ocupados, principalmente a Cisjordânia.
Intifadas
A resistência palestina optou então pela luta armada, lançando mão por vezes do terrorismo - com ataques a alvos civis dentro e fora de Israel. O resultado foi pouco alentador e o terrorismo até reforçou a posição de Israel, que tem nos Estados Unidos seu principal aliado. Em 1987, explodiu uma revolta popular contra os israelenses na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, inicialmente fora do controle da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e de seu principal líder, Yasser Arafat. A rebelião ficou conhecida como intifada, sobressalto, em árabe.
A reação violenta do exército israelense, que matou centenas de pessoas em poucos dias, desgastou a posição do país. Em seguida, Arafat prometeu desistir da luta armada em favor de negociações políticas que conduzissem à criação de um Estado palestino. Em 1991, sob pressão dos EUA, que enfrentavam a ira das massas árabes por conta da invasão do Iraque, naquele mesmo ano, o então primeiro-ministro ultraconservador de Israel, Itzhak Shamir, aceitou iniciar tímidas negociações de paz com os palestinos, na Conferência de Madrid.
Mas o sucessor de Shamir, Itzhak Rabin, levou as negociações à frente e, em 1993, assinou com Yasser Arafat os acordos de Oslo, com apoio da Casa Branca. O acordo previa a criação da Autoridade Palestina, embrião de um futuro governo palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os limites territoriais e a espinhosa questão de Jerusalém - que é reivindicada como capital por israelenses e palestinos - deveriam ser resolvidos nos anos seguintes. Israel também assinou a paz definitiva com a vizinha Jordânia.
As negociações com os palestinos evoluíram com extrema dificuldade, mas, no fim dos anos 90, parecia que a paz estava próxima, em torno de uma proposta israelense que incluía uma complexa equação para permitir a soberania compartilhada sobre Jerusalém. Também parecia próximo um acordo sobre a troca de territórios entre Israel e palestinos para resolver o problema dos quase 200 mil colonos judeus que vivem na Cisjordânia.
Arafat, porém, acreditou que o momento era favorável para aumentar as demandas e apresentou a exigência de realocação, no atual Israel, de milhões de palestinos que haviam perdido suas terras e casas após 1948. O governo israelense não aceitou, as conversações de paz foram por água abaixo e um passeio de outro primeiro-ministro ultraconservador, Ariel Sharon, pela Esplanada das Mesquitas, local sagrado para os muçulmanos em Jerusalém, detonou a segunda intifada, em 2000.
De lá para cá, a paz entre judeus e palestinos tem parecido cada vez mais distante. A OLP, que defendia um acordo com Israel, perdeu espaço nos territórios ocupados para o movimento fundamentalista islâmico Hamas, que tem apoio do Irã e da Síria e rejeita a paz com o Estado judeu. E o cenário político israelense deslocou-se para a direita, com as forças pacifistas perdendo espaço.
Grupos palestinos lançaram mão outra vez do terror, acionando homens (e mulheres) bombas contra alvos civis em Israel. Os israelenses reagiram construindo um imenso muro de proteção que isola suas cidades e estradas dos núcleos residenciais palestinos.
Em 2006, Israel lançou um sangrento ataque contra o Líbano, a propósito de estancar os disparos de foguetes do Hizbolá, facção xiita que tem o apoio da Síria e do Irã. Dois anos depois, também para pôr fim a ataques de foguetes contra seu território, Israel invadiu a Faixa de Gaza, deixando centenas de mortos.
Pouco mais de cem anos depois do nascimento do nacionalismo árabe e do sionismo, as perspectivas de paz entre Israel e seus vizinhos árabes parecem muito distantes. As negociações entre israelenses e palestinos estão paralisadas, assim como qualquer conversa entre Israel, Síria e Líbano. Fala-se até em um novo ataque de Israel contra o Hizbolá libanês, que vem recebendo de sírios e iranianos mísseis capazes de atingir as principais cidades israelenses.
Pior: nos últimos anos um novo player desponta no tabuleiro político regional. Trata-se do Irã, cujo governo é abertamente hostil a Israel e aos EUA, e está engajado em um imponente programa nuclear.
Como se vê, essa história ainda nos reserva muitos capítulos antes do epílogo que todos juram perseguir: a paz duradoura no Oriente Médio.
Fonte do texto sem os sites: ALMEIDA, Lucia Marina Alves de. Geografia: geografia geral e do Brasil, volume único. Tércio Barbosa Rigolin. São Paulo. Atíca, 2005.