“No
final do século XX, cada vez mais se entende a paz, não só em termos militares,
como ausência de conflito, mas como um fenômeno que engloba desenvolvimento
econômico, justiça social, proteção ambiental, democratização, desarmamento e
respeito pelos direitos humanos. Esses pilares de paz estão relacionados e
reforçam mutuamente. A edificação da paz e o combate ás ameaças à paz num mundo
independente exigem a participação de todos os cidadãos, nações e continentes.”
(Kofi
Annan, secretário geral das Nações Unidas. Dia Internacional da Paz, 16 set,
1997).
No fim do século XX, a
ONU, contava com 54 missões de paz em regiões afetadas pelas guerras ou em vias
de pacificação e assumia, também a administração da província de desintegrou a Ioguslávia a partir de 1991, e
os preparativos para as eleições no Timor Leste realizadas em 2002.
Guerras entre
Estados-Nações, guerras civis, guerrilhas, ocupação de territórios à força e
movimentos de separatismo dentro de Estados-Nações acontecem em todos os
continentes, exceto na Oceania.
Os principais motivos
dos conflitos que ocorrem no mundo são:
disputas por território, soberania do Estado Nacional (nacionalismo e
separatismo), rivalidades étnicas e religiosas, questões de fronteiras,
recursos minerais e, até mesmo, água.
A seguir, vamos ver
onde ocorrem esses conflitos e suas causas específicas.
No continente europeu,
os movimentos separatistas mais violentos aconteceram na região das cadeias de
montanhas terciárias do Cáucaso e dos Bálcãs na Irlanda do Norte e na Espanha.
CÁUCASO
A cadeia de montanhas
do Cáucaso localiza-se no Sudeste europeu, abrangendo o sul da Rússia e as antigas repúblicas
soviéticas europeias. Governadas com mão-de-ferro pela URSS essas repúblicas só
tiveram problemas étnicos e religiosos aflorados após a desintegração da antiga
potência comunista.
Região de ocupação
muito antiga e de grande diversidade étnica, teve duas influências religiosas
fundamentais: a cristã ortodoxa, legado da época em que a região fez parte do
Império Russo, e o islamismo, herança da dominação otomana. Os conflitos que
hoje ocorrem nessa região estão ligados aos nacionalismos (móvitos políticos) e
às diferenças religiosas.
Na Federação Russa, os
maiores problemas ocorrem nas repúblicas da Chechênia e do Daguestão. Além dos
grupos que lutam pela independência política, grupos religiosos pretendem
instalar Estados Islâmicos nessas repúblicas. Para conseguir seu intento,
alguns desses grupos chegam a empregar várias táticas terroristas, como por
exemplo, carros e homens bombas.
De 1984 a 1996, a
Chechênia travou uma violenta guerra contra a Rússia. Conquistou a autonomia,
porém várias cidades foram arrasadas pelos bombardeios russos. Foi adiada para
2001 a decisão sobre a independência da Chechênia. Como nada foi definido, os
nacionalistas chechenos retomaram sua luta.
Em outubro de 2002,
ocorreu um grave atentado em Moscou, capital russa. Centenas de pessoas assistiam
a um musical, quando o teatro foi invadido por um grupo de terroristas
chechenos. Após alguns dias de negociações infrutíferas, o presidente da
Rússia, Vladmir Putin, ordenou a invasão do local. O saldo da tragédia foi um
grande número de mortos, entre terroristas chechenos e espectadores russos e
estrangeiros.
No Daguestão, as lutas
têm cunho político e religioso: os rebeldes querem fundam uma república
islâmica. Por sua localização estratégica, passagem do Ocidente para o Oriente,
e por suas reservas petrolíferas os russos têm interesse em manter o domínio
sobre a região.
Outras disputas na
região do Cáucaso envolvem a Geórgia, o Azerbaijão, a Armênia e outras
repúblicas da Federação Russa.
Na Geórgia, existem
duas regiões separatistas: a região da Ossétia do Sul, que quer se juntar à
Rússia, onde está a Ossétia do Norte, e a Abkhazia, que quer se independente.
No Azerbaijão,
Nagorno-Karabkh é um território disputado pela Armênia, porque a maioria de sua
população é composta de armênios.
BÁLCÃS
A península Balcânica,
localizada no sul do continente europeu, é fortemente marcada pela presença da
cadeia de montanhas terciária, os Bálcas.
A principal
característica de sua população é a diversidade étnica e religiosa, que teve
como consequência inúmeros conflitos no decorrer de sua história. Essa
diversidade é uma herança de dominação de povos diferentes. No passado, a
região foi parte dos impérios grego-macedônio, romano, bizantino,
austro-húngaro e otomano. As principais etnias são de servos, croatas, montenegrinos,
eslovenos, albaneses, macedônios e
bósnios.
Três religiões
predominam nos Bálcãs: o catolicismo romano (eslovenos e croatas), a
grego-ortodoxa (sérvios, montenegrinos e macedônios) e o islamismo (albaneses e
bósnios).
Os gregos ocupam o extremo
sul da península mantendo-se de certa forma, alheios aos conflitos regionais,
com exceção de uma antiga rivalidade com a Macedônia, por enquanto sem maiores
consequências.
Dos países localizados
nessa região, dois adotaram o comunismo, embora não seguisse o modelo soviético
durante o período em que vigorava o mundo socialista: a Federação Iugoslávia
(que foi extinta em 2003)e a Albânia ( o país mais pobre da Europa).
O
FIM DA FEDERAÇÃO IOGUSLÁVIA
Entre 1991 e 1995, a partir do processo
de desintegração da Federação Iugoslávia aconteceram os maios violentos
conflitos na península Balcânica.
Para que possamos
entender melhor esses conflitos, precisamos conhecer um pouco da história desse
país. A Iugoslávia (terra dos eslavos do
sul) só passou a fazer parte do mapa da Europa em 1920, após o fim da Primeira
Guerra Mundial. O processo de formação como Estado-Nação ocorreu de 1815 a
1920.
No fim do século XIX, a
região pertencia aos império austro-húngaro e otomano.
Uma das primeiras
regiões a se libertar dos dominadores foi a Sérvia, cujo nacionalismo sempre
foi muito forte. Seu objetivo era formar a Grande Sérvia, dominando os outros
povos da região.
Após a Primeira Guerra
Mundial e o fim do império austro-húngaro e otomano, as fronteiras dos Bálcãs
foram reformuladas. O Tratado de Paris (1919) criou o Reino dos Sérvios,
Croatas e Eslovenos (formado por Sérvia, Croácia, Eslovênia,
Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia), transformado no ano seguinte no
Reino da Iugoslávia.
Durante a Segunda Guerra
Mundial, o Reino da Iugoslávia resistiu a invasão nazista, tendo o apoio dos
monarquistas sérvios (chetniks) edos guerrilheiros comunistas (partisans),
liderados por Josip Broz, também chamado de Tito. Os partisans foram
fundamentais na expulsão dos nazistas e na libertação do país.
Em 1945, Tito assume o
poder e implanta o regime comunista na recém-formada Federação da Iugoslávia.
O nacionalismo sérvio ficou “sufocado” pela
ditadura do Marechal Tito, croata de nascimento, garantindo a sobrevivência da
Federação. Além disso, o marechal era dotado de forte carisma e seu prestígio
perante a população devia-se ao fato de ter sido responsável pela expulsão dos
nazistas do país e por não aceitar as imposições do governo soviético, como os
demais dirigentes do Leste Europeu.
Com a sua morte, em
1980, a situação começa a mudar. Sem um chefe de Estado com condições de manter
as repúblicas unidas e o fim do comunismo no Leste Europeu, inicia-se o
processo de desintegração da Federação da Iugoslávia.
De 1991 a 1995, o país
passou por um processo de “guerra aberta”, que resultou na independência de
suas repúblicas.
A Croácia e a Eslovênia
declararam a independência em 1991.
Porém, os sérvios que
viviam nessas repúblicas não aceitaram a independência porque não queriam
perder a nacionalidade iugoslava. O novo líder sérvio, Slobodan Milosevic,
retomou os antigos planos de formar uma Grande Sérvia nos Bálcãs e interveio
militarmente nas repúblicas rebeldes.
Na Eslovênia, a
separação foi quase pacífica e o país não se envolveu nos demais conflitos da
região.
Na Croácia, onde a
população sérvia era significativa, as hostilidades duraram um ano e terminaram
com a sua separação do governo central da Iugoslávia. Mais tarde, a Croácia
envolveu-se na guerra de Independência da Bósnia, reivindicando o território
bósnio habitado por croatas.
A guerra da Bósnia foi
a mais longa e violenta, com cerca de 250 mil mortos e a participação de tropas
da Organização do Atlântico Norte (OTAN). Em 1995, o acordo de paz de Dayton
pôs fim aos conflitos e dividiu a Bósnia em duas partes: a República Sérvia e a
Federação Mulçumana Croata. Existe uma presidência comum, mas cada uma tem seu
próprio presidente e parlamento.
O último conflito nos Bálcãs aconteceu em
1996, na região autônoma de Kosovo. A província, com cerca de 80% da população
albanesa, queria se separar do que havia restado da Iugoslávia (Sérvia,
Montenegro e Voivodina) e expulsar os sérvios de seu território.
Organizações
separatistas albanesas, como o Exército de Libertação de Kosovo (ELK) e o
Exército de Libertação Nacional (UCK) rebelaram-se contra o governo de Slobodan
Milosevic, que havia sido eleito presidente da Iugoslávia em 1997, e os
massacres começaram na região.
Em 1999, após ataques
da Otan a Iugoslávia, Milosevic aceita as condições da ONU e uma força
internacional de paz se estabelece na região.
O presidente Milosevic
é deposto, preso e responde por seus crimes de guerras perante o Tribunal
Internacional da Iugoslávia (TPII).
Depois desses
acontecimentos, o UCK ameaça invadir a Macedônia para anexar um terço desse
país que tem população albanesa e formar a Grande Albânia.
Em fevereiro de 2003, a
Federação Iugoslávia foi extinta. Em seu lugar passou a existir a República da
Sérvia e Montenegro, formada por dois estados semi-independentes. O acordo
prevê que os países administrarão suas próprias economias e manterão suas
moedas e alfândegas. Apenas a política externa e a de defesa ficarão a cargo de
uma presidência comum.
IRLANDA
DO NORTE
Os problemas na Irlanda
do Norte são consequências de uma longa história de conflitos entre católicos
(irlandeses) e protestantes (ingleses) nas Ilhas Britânicas.
Os ingleses dominaram e
submeteram os irlandeses até 1921, quando a Inglaterra concedeu independência
parcial à Irlanda. Somente ¾ da ilha, a partir do sul, formava o Estado
Irlandês Independente (Irisch Free State.). Entretanto, o preço da liberdade
foi alto.
Os seis condados de
Uslter (Irlanda do Norte) continuariam a fazer parte do Reino Unido. O acordo
de Valera, chefe do Sinn Fein, partido nacionalista católico, e apoiado por
Michael Collins, fundador do Exército Republicano Irlandês (IRA). Isso resultou
em uma guerra civil que terminou com a morte de Collins, que sustentava a ideia
de que era preciso “ter a liberdade para alcançar a liberdade”. A constituição
Irlandesa de 1937 criou a República do Eire, que só deixou a Comunidade
Britânica das Nações em 1949.
Por causa do domínio
Britânico, a influência da população
protestante era maioria na Irlanda do Norte. A população católica do Uslter nunca se conformou com a situação,
pois era discriminada pelos protestantes ingleses. Essa discriminação envolvia
desde a perda de direitos eleitorais até a proibição de habitar determinados bairros
da capital, Belfast.
O Sinn Fain e o IRA,
que haviam participado do processo de independência da Irlanda, iniciam a luta
pela união das duas partes da Ilha. Os protestos e ataques terroristas
tornaram-se mais intensos a partir de 1968.
Ao mesmo tempo,
formaram-se grupos paramilitares protestantes (Voluntários do Uslter) que
aliados ao Partido Unionista, assim chamado porque seus representantes
pretendiam permanecer como parte do Reino Unido e não perder os privilégios de
súditos de Sua Majestade passaram a combater os católicos.
Em 1998, após
sangrentos conflitos, o Sinn Fein e o Partido Unionista assinam um acordo de
paz (Acordo de Sexta-feira Santa), mediado pelo presidente Bill Cliton, dos
Estados Unidos, e pelo primeiro ministro britânico, Tony Blair. Depois disso, a
violência na região diminuiu muito.
Apesar de ter anunciado
o desarmamento em 2001 e a retomada das negociações sobre o Acordo da
Sexta-feira Santa, o IRA retoma suas atividades. Em março de 2004, o Partido
Unionista também se retira das negociações e gera nova crise na Irlanda do
Norte.
Fonte
do texto: ALMEIDA, Lucia Marina Alves de. Geografia: geografia geral e do
Brasil, volume único. Tércio Barbosa Rigolin. São Paulo. Atíca, 2005.
PAÍS
BASCO
É um território que,
apesar do nome, não é um país independente, mas uma área de 20 mil quilômetros
quadrados entre a Espanha e a França onde vivem os bascos. Estabelecido ali há
mais de 4 mil anos, esse povo conservou boa parte dos seus traços culturais originais,
especialmente o nacionalismo e a língua, que não tem parentesco com nenhuma
outra. "Ao longo de todo esse tempo, os bascos tiveram seu território
ocupado por romanos, visigodos, mouros e francos. A Espanha e a França pegaram
sua fatia por volta do século 15", afirma a historiadora Maria Guadalupe
Pedrero-Sánchez, da Unesp de Assis (SP). No século 17, a demarcação definitiva
das fronteiras dividiu de vez esse povo em dois Estados. "Na Espanha, onde
estão 90% do território basco, a integração foi mais difícil que na
França", diz o geógrafo André Martin, da Universidade de São Paulo (USP).
Durante a Guerra Civil
Espanhola (1936-1939), eles lutaram contra o general Francisco Franco, o líder
nacionalista que implantou uma sangrenta ditadura. Em represália, o general
acabou com a relativa autonomia política basca, alimentando ainda mais o
nacionalismo daquele povo e fazendo surgir organizações terroristas que
defendiam a criação de um Estado independente. O mais famoso desses grupos, o
ETA (sigla de Euskadi Ta Askatasua, ou "pátria basca e liberdade"),
apareceu em 1959. Ao longo das últimas quatro décadas, os terroristas
organizaram atentados contra o governo central em nome da independência. Uma
pequena trégua na luta aconteceu em 1978, com a promulgação de uma nova
Constituição espanhola que favorecia a autonomia do País Basco. Desde 1980, a
nação conta com um Parlamento próprio, mas ainda não tem território.
Irma Storti
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