sexta-feira, 17 de junho de 2016

NACIONALISMO, SEPARATISMO E MINORIAS ÉTNICAS



“No final do século XX, cada vez mais se entende a paz, não só em termos militares, como ausência de conflito, mas como um fenômeno que engloba desenvolvimento econômico, justiça social, proteção ambiental, democratização, desarmamento e respeito pelos direitos humanos. Esses pilares de paz estão relacionados e reforçam mutuamente. A edificação da paz e o combate ás ameaças à paz num mundo independente exigem a participação de todos os cidadãos, nações e continentes.”
(Kofi Annan, secretário geral das Nações Unidas. Dia Internacional da Paz, 16 set, 1997).

No fim do século XX, a ONU, contava com 54 missões de paz em regiões afetadas pelas guerras ou em vias de pacificação e assumia, também a administração da província de  desintegrou a Ioguslávia a partir de 1991, e os preparativos para as eleições no Timor Leste realizadas em 2002.
Guerras entre Estados-Nações, guerras civis, guerrilhas, ocupação de territórios à força e movimentos de separatismo dentro de Estados-Nações acontecem em todos os continentes, exceto na Oceania.
Os principais motivos dos conflitos que ocorrem  no mundo são: disputas por território, soberania do Estado Nacional (nacionalismo e separatismo), rivalidades étnicas e religiosas, questões de fronteiras, recursos minerais e, até mesmo, água.
A seguir, vamos ver onde ocorrem esses conflitos e suas causas específicas.
No continente europeu, os movimentos separatistas mais violentos aconteceram na região das cadeias de montanhas terciárias do Cáucaso e dos Bálcãs na Irlanda do Norte e na Espanha.

CÁUCASO

A cadeia de montanhas do Cáucaso localiza-se no Sudeste europeu, abrangendo  o sul da Rússia e as antigas repúblicas soviéticas europeias. Governadas com mão-de-ferro pela URSS essas repúblicas só tiveram problemas étnicos e religiosos aflorados após a desintegração da antiga potência comunista.
Região de ocupação muito antiga e de grande diversidade étnica, teve duas influências religiosas fundamentais: a cristã ortodoxa, legado da época em que a região fez parte do Império Russo, e o islamismo, herança da dominação otomana. Os conflitos que hoje ocorrem nessa região estão ligados aos nacionalismos (móvitos políticos) e às diferenças religiosas.
Na Federação Russa, os maiores problemas ocorrem nas repúblicas da Chechênia e do Daguestão. Além dos grupos que lutam pela independência política, grupos religiosos pretendem instalar Estados Islâmicos nessas repúblicas. Para conseguir seu intento, alguns desses grupos chegam a empregar várias táticas terroristas, como por exemplo, carros e homens bombas.
De 1984 a 1996, a Chechênia travou uma violenta guerra contra a Rússia. Conquistou a autonomia, porém várias cidades foram arrasadas pelos bombardeios russos. Foi adiada para 2001 a decisão sobre a independência da Chechênia. Como nada foi definido, os nacionalistas chechenos retomaram sua luta.
Em outubro de 2002, ocorreu um grave atentado em Moscou, capital russa. Centenas de pessoas assistiam a um musical, quando o teatro foi invadido por um grupo de terroristas chechenos. Após alguns dias de negociações infrutíferas, o presidente da Rússia, Vladmir Putin, ordenou a invasão do local. O saldo da tragédia foi um grande número de mortos, entre terroristas chechenos e espectadores russos e estrangeiros.
No Daguestão, as lutas têm cunho político e religioso: os rebeldes querem fundam uma república islâmica. Por sua localização estratégica, passagem do Ocidente para o Oriente, e por suas reservas petrolíferas os russos têm interesse em manter o  domínio  sobre a região.
Outras disputas na região do Cáucaso envolvem a Geórgia, o Azerbaijão, a Armênia e outras repúblicas da Federação Russa.
Na Geórgia, existem duas regiões separatistas: a região da Ossétia do Sul, que quer se juntar à Rússia, onde está a Ossétia do Norte, e a Abkhazia, que quer se independente.
No Azerbaijão, Nagorno-Karabkh é um território disputado pela Armênia, porque a maioria de sua população é composta de armênios.

BÁLCÃS
A península Balcânica, localizada no sul do continente europeu, é fortemente marcada pela presença da cadeia de montanhas terciária, os Bálcas.
A principal característica de sua população é a diversidade étnica e religiosa, que teve como consequência inúmeros conflitos no decorrer de sua história. Essa diversidade é uma herança de dominação de povos diferentes. No passado, a região foi parte dos impérios grego-macedônio, romano, bizantino, austro-húngaro e otomano. As principais etnias são de servos, croatas, montenegrinos, eslovenos, albaneses, macedônios  e bósnios.
Três religiões predominam nos Bálcãs: o catolicismo romano (eslovenos e croatas), a grego-ortodoxa (sérvios, montenegrinos e macedônios) e o islamismo (albaneses e bósnios).
Os gregos ocupam o extremo sul da península mantendo-se de certa forma, alheios aos conflitos regionais, com exceção de uma antiga rivalidade com a Macedônia, por enquanto sem maiores consequências.
Dos países localizados nessa região, dois adotaram o comunismo, embora não seguisse o modelo soviético durante o período em que vigorava o mundo socialista: a Federação Iugoslávia (que foi extinta em 2003)e a Albânia ( o país mais pobre da Europa).

O FIM DA FEDERAÇÃO IOGUSLÁVIA
Entre 1991 e 1995, a partir do processo de desintegração da Federação Iugoslávia aconteceram os maios violentos conflitos na península Balcânica.
Para que possamos entender melhor esses conflitos, precisamos conhecer um pouco da história desse país. A Iugoslávia  (terra dos eslavos do sul) só passou a fazer parte do mapa da Europa em 1920, após o fim da Primeira Guerra Mundial. O processo de formação como Estado-Nação ocorreu de 1815 a 1920.
No fim do século XIX, a região pertencia aos império austro-húngaro e otomano.
Uma das primeiras regiões a se libertar dos dominadores foi a Sérvia, cujo nacionalismo sempre foi muito forte. Seu objetivo era formar a Grande Sérvia, dominando os outros povos da região.
Após a Primeira Guerra Mundial e o fim do império austro-húngaro e otomano, as fronteiras dos Bálcãs foram reformuladas. O Tratado de Paris (1919) criou o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (formado por Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia), transformado no ano seguinte no Reino da Iugoslávia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Reino da Iugoslávia resistiu a invasão nazista, tendo o apoio dos monarquistas sérvios (chetniks) edos guerrilheiros comunistas (partisans), liderados por Josip Broz, também chamado de Tito. Os partisans foram fundamentais na expulsão dos nazistas e na libertação do país.
Em 1945, Tito assume o poder e implanta o regime comunista na recém-formada Federação da Iugoslávia.
 O nacionalismo sérvio ficou “sufocado” pela ditadura do Marechal Tito, croata de nascimento, garantindo a sobrevivência da Federação. Além disso, o marechal era dotado de forte carisma e seu prestígio perante a população devia-se ao fato de ter sido responsável pela expulsão dos nazistas do país e por não aceitar as imposições do governo soviético, como os demais dirigentes do Leste Europeu.
Com a sua morte, em 1980, a situação começa a mudar. Sem um chefe de Estado com condições de manter as repúblicas unidas e o fim do comunismo no Leste Europeu, inicia-se o processo de desintegração da Federação da Iugoslávia.
De 1991 a 1995, o país passou por um processo de “guerra aberta”, que resultou na independência de suas repúblicas.
A Croácia e a Eslovênia declararam a independência em 1991.
Porém, os sérvios que viviam nessas repúblicas não aceitaram a independência porque não queriam perder a nacionalidade iugoslava. O novo líder sérvio, Slobodan Milosevic, retomou os antigos planos de formar uma Grande Sérvia nos Bálcãs e interveio militarmente nas repúblicas rebeldes.
Na Eslovênia, a separação foi quase pacífica e o país não se envolveu nos demais conflitos da região.
Na Croácia, onde a população sérvia era significativa, as hostilidades duraram um ano e terminaram com a sua separação do governo central da Iugoslávia. Mais tarde, a Croácia envolveu-se na guerra de Independência da Bósnia, reivindicando o território bósnio habitado por croatas.
A guerra da Bósnia foi a mais longa e violenta, com cerca de 250 mil mortos e a participação de tropas da Organização do Atlântico Norte (OTAN). Em 1995, o acordo de paz de Dayton pôs fim aos conflitos e dividiu a Bósnia em duas partes: a República Sérvia e a Federação Mulçumana Croata. Existe uma presidência comum, mas cada uma tem seu próprio presidente e parlamento.
 O último conflito nos Bálcãs aconteceu em 1996, na região autônoma de Kosovo. A província, com cerca de 80% da população albanesa, queria se separar do que havia restado da Iugoslávia (Sérvia, Montenegro e Voivodina) e expulsar os sérvios de seu território.
Organizações separatistas albanesas, como o Exército de Libertação de Kosovo (ELK) e o Exército de Libertação Nacional (UCK) rebelaram-se contra o governo de Slobodan Milosevic, que havia sido eleito presidente da Iugoslávia em 1997, e os massacres começaram na região.
Em 1999, após ataques da Otan a Iugoslávia, Milosevic aceita as condições da ONU e uma força internacional de paz se estabelece na região.
O presidente Milosevic é deposto, preso e responde por seus crimes de guerras perante o Tribunal Internacional da Iugoslávia (TPII).
Depois desses acontecimentos, o UCK ameaça invadir a Macedônia para anexar um terço desse país que tem população albanesa e formar a Grande Albânia.
Em fevereiro de 2003, a Federação Iugoslávia foi extinta. Em seu lugar passou a existir a República da Sérvia e Montenegro, formada por dois estados semi-independentes. O acordo prevê que os países administrarão suas próprias economias e manterão suas moedas e alfândegas. Apenas a política externa e a de defesa ficarão a cargo de uma presidência comum.

IRLANDA DO NORTE

Os problemas na Irlanda do Norte são consequências de uma longa história de conflitos entre católicos (irlandeses) e protestantes (ingleses) nas Ilhas Britânicas.
Os ingleses dominaram e submeteram os irlandeses até 1921, quando a Inglaterra concedeu independência parcial à Irlanda. Somente ¾ da ilha, a partir do sul, formava o Estado Irlandês Independente (Irisch Free State.). Entretanto, o preço da liberdade foi alto.
Os seis condados de Uslter (Irlanda do Norte) continuariam a fazer parte do Reino Unido. O acordo de Valera, chefe do Sinn Fein, partido nacionalista católico, e apoiado por Michael Collins, fundador do Exército Republicano Irlandês (IRA). Isso resultou em uma guerra civil que terminou com a morte de Collins, que sustentava a ideia de que era preciso “ter a liberdade para alcançar a liberdade”. A constituição Irlandesa de 1937 criou a República do Eire, que só deixou a Comunidade Britânica das Nações em 1949.
Por causa do domínio Britânico, a influência da população  protestante era maioria na Irlanda do Norte. A população católica  do Uslter nunca se conformou com a situação, pois era discriminada pelos protestantes ingleses. Essa discriminação envolvia desde a perda de direitos eleitorais até a proibição de habitar determinados bairros da capital, Belfast.
O Sinn Fain e o IRA, que haviam participado do processo de independência da Irlanda, iniciam a luta pela união das duas partes da Ilha. Os protestos e ataques terroristas tornaram-se mais intensos a partir de 1968.
Ao mesmo tempo, formaram-se grupos paramilitares protestantes (Voluntários do Uslter) que aliados ao Partido Unionista, assim chamado porque seus representantes pretendiam permanecer como parte do Reino Unido e não perder os privilégios de súditos de Sua Majestade passaram a combater os católicos.
Em 1998, após sangrentos conflitos, o Sinn Fein e o Partido Unionista assinam um acordo de paz (Acordo de Sexta-feira Santa), mediado pelo presidente Bill Cliton, dos Estados Unidos, e pelo primeiro ministro britânico, Tony Blair. Depois disso, a violência na região diminuiu muito.
Apesar de ter anunciado o desarmamento em 2001 e a retomada das negociações sobre o Acordo da Sexta-feira Santa, o IRA retoma suas atividades. Em março de 2004, o Partido Unionista também se retira das negociações e gera nova crise na Irlanda do Norte.
Fonte do texto: ALMEIDA, Lucia Marina Alves de. Geografia: geografia geral e do Brasil, volume único. Tércio Barbosa Rigolin. São Paulo. Atíca, 2005.




PAÍS BASCO

É um território que, apesar do nome, não é um país independente, mas uma área de 20 mil quilômetros quadrados entre a Espanha e a França onde vivem os bascos. Estabelecido ali há mais de 4 mil anos, esse povo conservou boa parte dos seus traços culturais originais, especialmente o nacionalismo e a língua, que não tem parentesco com nenhuma outra. "Ao longo de todo esse tempo, os bascos tiveram seu território ocupado por romanos, visigodos, mouros e francos. A Espanha e a França pegaram sua fatia por volta do século 15", afirma a historiadora Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, da Unesp de Assis (SP). No século 17, a demarcação definitiva das fronteiras dividiu de vez esse povo em dois Estados. "Na Espanha, onde estão 90% do território basco, a integração foi mais difícil que na França", diz o geógrafo André Martin, da Universidade de São Paulo (USP).
Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), eles lutaram contra o general Francisco Franco, o líder nacionalista que implantou uma sangrenta ditadura. Em represália, o general acabou com a relativa autonomia política basca, alimentando ainda mais o nacionalismo daquele povo e fazendo surgir organizações terroristas que defendiam a criação de um Estado independente. O mais famoso desses grupos, o ETA (sigla de Euskadi Ta Askatasua, ou "pátria basca e liberdade"), apareceu em 1959. Ao longo das últimas quatro décadas, os terroristas organizaram atentados contra o governo central em nome da independência. Uma pequena trégua na luta aconteceu em 1978, com a promulgação de uma nova Constituição espanhola que favorecia a autonomia do País Basco. Desde 1980, a nação conta com um Parlamento próprio, mas ainda não tem território.


Irma Storti


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